Pesquisa Social em Saúde

Seja bem vindo!
Apresentamos neste blog os resultados de algumas pesquisas realizadas pelos alunos da disciplina Pesquisa Social em Saude, ministrada regularmente pelo prof. Dr. Miguel Ângelo Montagner na Universidade de Brasília - UnB.
O objetivo é, ao mesmo tempo, expor os resultados das pequenas pesquisas realizadas pelos alunos e também mostrar os métodos usados.

Grupo Focal

Cotas Raciais nas Universidades,
inclusão ou preconceito?





            Preconceito é uma ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial, um estado de cegueira moral. As principais formas são: preconceito racial, social e sexual.
           O preconceito racial é uma forma de exclusão social que está presente em todo o mundo, e apesar de o Brasil ser caracterizado por uma pluralidade étnica, ainda é muito frequente no país, e é normalmente causado pela ignorância, o não conhecimento do outro que é diferente. Hoje, a sua prática é uma violação aos direitos humanos, mas no passado fora utilizado para justificar a escravidão e as injustiças cometidas contra os negros, como por exemplo, o não direito à escola. Ainda longe de ser um país onde todos sejam iguais em termos de oportunidade, o Brasil vem implementando leis e políticas afirmativas que buscam erradicar o preconceito racial e promover a igualdade entre as pessoas.
           Neste sentido que se enquadra o sistema de cotas, uma política de ação afirmativa que entende que há correlações importantes entre cor e uma série de desvantagens econômicas e sociais e que tenta reverter o que as análises estatísticas comprovam: hoje, a população preta e parda corresponde à minoria do contingente que conclui o ensino superior, compondo apenas 2% e 12% respectivamente, e sendo ela 45% dos brasileiros, comparado com 83% de universitários brancos (de acordo com a classificação do IBGE), além do mais os negros enfrentam dificuldades enormes para ingressar e permanecer na universidade. E que destina no caso na Universidade de Brasília 20% do total de  vagas de cada curso a indivíduos negros.

     “Uma sociedade justa deveria tratar todos cidadãos igualmente, independente da cor da pele”.  
 Martin Luther King
          A expressão acima pressupõe a extinção do racismo, em suas faces de discriminação, exploração, exclusão social e opressão. Mas não seria as cotas uma forma de diferenciar os cidadãos por sua cor de pele? Já que estas enquadram os indivíduos negros em um grupo diferenciado dos outros, classificando -os "racialmente". 
         As cotas existentes tem tido mesmo um efeito de inclusão como dita sua proposta ou ela é mais uma forma de rearfimar o grande preconceito ainda existente contra negros e descendentes?
         
            Justamente devido ao debate deste tema suscitar pontos de vista bem diferentes e de ser um assunto de extrema importância em uma Universidade, é que o presente texto visa apresentar o estudo qualitativo desenvolvido através da técnica do Grupo Focal sobre o sistema de cotas raciais adotado na Universidade de Brasília, cujo objetivo é conhecer e analisar a opinião dos universitários a respeito deste assunto.

Grupo Focal

         É um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência social. A técnica oferece informações qualitativas pois trabalha com perguntas abertas, permite o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores e preconceitos. É utilizado para investigar questões complexas relacionadas a conflitos podendo assim avaliar impactos, e é indicado a participação de 4 a 12 pessoas.
        O grupo focal realizado por nós foi constituído por um conjunto de oito pessoas selecionadas da Faculdade de Ceilândia - UnB, tendo como características em comum o nível de escolaridade e o fato de serem alunos de uma universidade que adota o sistema de cotas.





Resultados

     No primeiro momento do debate o moderador, o professor Miguel, introduziu o tema a ser discutido: as políticas afirmativas, enfatizando as cotas raciais, e ainda citou o programa REUNI
     Logo após cada um dos participantes do grupo focal se apresentou e se posicionou como a favor ou contra as cotas e no decorrer do debate, cada um foi aprofundado sua opinião a respeito do tema.   .
     Abaixo será relatado algumas falas dos participantes e algumas de suas reações:

    Camila, estudante de fisioterapia é totalmente contra as cotas raciais, mas a favor da política de inclusão, pois acredita ser esta uma forma mais justa de inserção social. Ela acredita que as pessoas que passaram pelo sistema de cotas são discriminadas por alguns colegas que acham que é um absurdo existir cotas para negros. Durante o debate mostra-se prestativa, participativa e nervosa.
        “Já passei por cotas, mas desisti e prestei vestibular pela 2ª vez pelo sistema universal e passei. Eu tenho tanta capacidade quanto qualquer pessoa, o sistema de cotas para negros, na verdade, divide, segrega a sociedade, existe sim uma discriminação, e as cotas ameniza a capacidade das pessoas”.





      Camila também explica as provas, que são as mesmas para ambos os sistemas (universal e cotas), e o que diferencia é o sistema pela qual a pessoa vai passar, então a capacidade será medida na prova.


         Sobrinho, graduando do curso de Saúde Coletiva, é contra as cotas raciais, no entanto é a favor de políticas inclusivas, pois acredita que as mesmas tentam corrigir distorções sociais . Ele não considera o sistema de cotas uma política de inclusão e diz haver uma grande confusão na concepção das pessoas sobre o que é inclusão. No começo aparentava estar distraído e pensativo.

"As cotas discriminam mais do que incluem, inclusão é olhar para cada um como seres humanos iguais."


      Sobrinho também cita que os alunos da escola pública deveriam ser maioria na Universidade Publica e que são os pobres que mantêm a Universidade para os ricos, e ainda diz que, quem mais sofre é o pobre. Acha que as cotas é uma hipocrisia, pois não se repara o mal feito (a escravidão) com  as mesmas, acredita que os próprios negros se consideram inferiores. Ele é favor das cotas regionais, critica as cotas para negros, dizendo que se a mesma existe deveria haver também uma cota para pessoas de mais idade, já que se sente discriminado por sua idade no âmbito universitário, tanto pelos alunos como pelos professores. mesma

“Até os professores olham para mim diferente, por eu ser mais velho, que vá para puta que pariu, cada um que cuide da sua vida. [...] daqui a pouco farão cotas para ruivos, loiros. (todos riem)
      Lusmair é estudante de fisioterapia e a favor das cotas para negros, pois contribuem para a inserção do negro na sociedade e consequentemente para diminuição e/ou extinção do racismo. Entretanto, é contra as cotas regionais e acredita que deveria haver algum tipo de cota relacionada ao nível socioeconômico.
      No decorrer do debate coloca a mão debaixo do queixo, com expressão pensativa analisando o que o Sobrinho está dizendo. Apresenta-se calma, apenas observando, e sorri ao ouvir as falas de Sobrinho que critica os ricos que passam em sistemas públicos. 


“Só se discute cotas porque é para negros, isso é racismo”.



      Rúbia cursa Saúde Coletiva e é contra as cotas raciais, mas a favor das políticas inclusivas, porém administradas de outra forma, devendo haver cotas relacionadas à situação financeira e não por cor ou região. No inicio da discussão apresenta-se calma, entretanto em seu decorrer discorda de Adriana, se alterando e diz “estou estressada” e coloca seu ponto de vista com propriedade se desencostando da cadeira e fazendo esforço para ser compreendida, também interfere na fala dos outros que discutem a favor das cotas. Após dar a sua opinião volta a ficar calma e pensativa. 

                   "As cotas deveriam ser sociais e não raciais."





      Juliane, de Saude Coletiva e cotista, é a favor das cotas para negros e diz que a mesma incentiva as pessoas negras a ingressarem na Universidade, também apoia as políticas inclusivas, pois acredita que estas minimizam parte das desigualdades que há na sociedade, visto que, algumas pessoas são mais favorecidas e tem melhores oportunidades. Discorda de Sobrinho quando ele diz que a política utilizada pela UnB para negros não é inclusiva, no entanto estas políticas possuem pontos que devem ser melhorados e revistos e poderiam ser modificadas de acordo com as pessoas que são contra as cotas. Ela se mostra, durante o debate, entusiasmada com o tema, mas se contradiz ao dizer que apesar de ser descendente de índio e italiano, passou por cotas para negros.


    “Tive condições para passar para outros cursos, mas foi mais fácil para mim que pertenço a classe média, mas a maioria das pessoas negras são pobres, sou uma exceção. Nunca me senti discriminada, o negro deve parar de ser fazer de vítima, pois a discriminação é coisa do passado, hoje em dia, se aqui na FCE, o Sobrinho por exemplo, me discriminar por ser negra e cotista na frente de todos, o otário vai ser ele. Me considero negra e as pessoas que são contra as cotas deveriam rever seus valores, repudio todas elas.”

    Para ela, a UnB incentiva os negros a estarem dentro da Universidade, porque há mais branco do que negros na mesma.



       
     Adriana, do curso de Saúde Coletiva, se posicionou de modo favorável as políticas inclusivas, desde que sejam atreladas ao fator socioeconômico, sobretudo quando trata-se de cotas regionais, acredita que estas políticas surgiram com a finalidade de corrigir acessos desiguais, também é a favor das cotas para negros. Fica pensativa durante certos momentos da discussão, e em outros se exalta um pouco pelas pessoas interromperem sua fala, ao colocar sua opinião sempre gesticula com as mãos. Ela comenta a desigualdade e a falta de oportunidade que os negros sofrem, e concorda com o Sobrinho sobre a discriminação que sente por não possuir mais 20 anos, como a maioria da Universidade.
              “Dentre os pobres a maioria são negros, mas e a minoria?”. 


        Geane, universitária do curso Saúde Coletiva, é a favor das políticas inclusivas porque para ela, estas ajudam as pessoas menos favorecidas a terem uma melhor estrutura, sobretudo concorda com as cotas raciais e ingressou na Universidade por este sistema. Ela se sente discriminada por ser cotista, pois há pessoas que dizem que os negros tiram nota bem inferior do que a do sistema universal. Se mostra convicta ao expor sua opinião, e balança a cabeça negativamente ao ouvir a opinião de Camila sobre as cotas, citada acima, mas concorda com a de David, e assim como ele, foi a primeira de sua família a passar na Universidade.
     “As pessoas acham que a nota dos negros é bem inferior, uma discriminação, passei com nota boa, seria capaz de passar mesmo sem as cotas. Não tenho vergonha por ter passado por cotas, por que deveria?”.


        David, estudante de Saúde Coletiva, também concorda com as política inclusivas, já que para ele, a sociedade não é igualitária e algumas pessoas são mais favorecidas e tem melhores oportunidades do que outras; acredita que estas políticas minimizam este cenário. A favor dos sistemas de cotas acredita que este é um incentivo aos negros, no entanto não passou pelo sistema e afirma que foi o primeiro a ingressar na Universidade da sua família.
         “O negro ou desiste de passar na universidade, ou não tenta.”

Conclusão

          Os resultados obtidos revelaram que as opiniões de cada aluno são bem distintas, todos concordam com as políticas inclusivas, a maioria concorda com a lógica do sistema de cotas raciais, mas há aqueles que acreditam que estas deveriam estar correlacionadas não a cor, mas as condições socioeconômicas. Após o debate, feito através do grupo focal, os participantes mantiveram os mesmos pontos de vista a respeito das cotas.